Sempre me intrigou pensar como uma empresa formada por milhares de pessoas pode se comunicar de forma clara. Como as opiniões das tantas pessoas que a formam são respeitadas e ao mesmo tempo existe uma comunicação una?
Para nos falar disso convidei o Paulo Henrique Romariz, Diretor de Comunicação Corporativa da Visa para nos contar como funciona essa área numa das maiores empresas do Mundo.
Paulo Henrique Romariz (foto: acervo pessoal)
O Paulo (além de ter estudado na mesma escola que eu quando criança) está na Visa desde julho de 2016, sendo responsável pela estratégia e implementação do plano de comunicação da empresa para diversos públicos como imprensa, redes sociais, patrocínios e clientes. Paulo também tem liderado frentes de Comunicação para toda a região da América Latina e Caribe em pilares como Visa Consulting & Analytics, Value Added Solutions e Inovação.
Diego Godoy: Paulo, muito obrigado por topar falar com os nossos mais de 47 mil assinantes mensais!
Como você vê o papel da comunicação corporativa se transformando no futuro do trabalho, especialmente considerando o contexto de inovação, patrocínios estratégicos, collabs?
Paulo Henrique Romariz: Eu que agradeço!
Diego,a Comunicação Corporativa está se tornando cada vez mais central na estratégia das empresas, especialmente em um ambiente de rápida transformação devido à rapidez da inovação e às dinâmicas de negócios. Eu entendo que a minha área precisa se tornar parte integrante da estratégia, atuando como um catalisador para a inovação.
Alguns anos atrás, os times de Negócios ou Produtos chegavam para o de Comunicação com um projeto pronto para ser comunicado. Hoje, isso não mais acontece. A área de Comunicação Corporativa foi integrada ao desenvolvimento dos projetos, serviços e soluções, participando da concepção desde o início.
Em termos de patrocínios estratégicos e collabs, a comunicação eficaz pode amplificar o impacto dessas iniciativas, criando uma conexão emocional com o público e fortalecendo a marca.
Não patrocinamos apenas para ter uma logomarca exposta. É preciso ter propósito, gerar conversas e conteúdo, engajar as pessoas. Eu vejo que o papel da comunicação é crucial para criar narrativas que ressoem e se conectem com os valores da empresa, que seja colaborativa, ao mesmo tempo em que promovem transparência e autenticidade. Sem verdade, nada vai além.
DG: Como a área de comunicação tem colaborado para tornar negócios fortes e competitivos diante dessa agitação das redes sociais (cancelamentos, marcas sofrendo com exposição de problemas etc.)?
PHR: A pergunta é ótima para mostrar exatamente como ter a Comunicação no cerne da Estratégia e da Inovação se faz necessário em qualquer empresa. Somos reconhecidos como área que tem um papel central em gerenciar crises. Mas esse trabalho vem antes mesmo de uma possível crise acontecer. Fazemos testes, pesquisa, desenhamos inúmeros cenários possíveis e até impossíveis, para estarmos preparados e, mesmo assim, problemas podem acontecer. Mas aconteceriam mais se a empresa não tivesse uma área de Comunicação forte e atuante. Somos responsáveis pela reputação da empresa e nosso papel é questionar sempre, antes de qualquer anúncio da companhia acontecer. O que queremos com isso? Qual a conexão com o propósito da empresa? Isso está alinhado com nossos valores e missão? Parece simples, mas são perguntas que já fizeram muitos projetos serem revistos ou cancelados.
Além disso, é importante monitorar constantemente as redes sociais para identificar possíveis problemas antes que se tornem crises, responder rapidamente, proativamente, e de forma transparente a qualquer situação negativa e manter uma comunicação aberta com o público. É vital construir uma presença digital positiva e autêntica que possa resistir a tempestades e manter a confiança do consumidor/cliente.
A Visa é patrocinadora de eventos globais como a Copa do Mundo FIFA, por exemplo.
DG: Quais competências você considera essenciais para profissionais que desejam atuar estrategicamente na comunicação agora e nos próximos anos?
PHR: Da mesma forma que bato tanto na importância de a área da Comunicação estar dentro da estratégia da empresa, o profissional precisa ser versátil e aberto o suficiente para entender tudo o que acontece na companhia – do RH (recursos humanos), passando por questões contratuais de Legal (Jurídico e Compliance), até nos mais técnicos assuntos de Inovação. Mas acho superimportante que esses profissionais não deixem de estar conectados com o mundo externo e que busquem ter uma compreensão das tendências culturais e sociais ao redor.
Às vezes, estamos tão imersos nas empresas que deixamos de olhar o novo, perdemos o hábito de questionar e somos surpreendidos.
Capacidade de se adaptar rapidamente a mudanças também é uma qualidade importante, assim como pensamento estratégico e inovação para antecipar desafios e oportunidades. Além disso, temos evoluído bastante enquanto área na habilidade de usar mais ferramentas como análise de dados e de criar métricas de mensuração. Bons profissionais precisam sempre pensar como medir o impacto do seu trabalho e ajustar as estratégias de forma eficaz.
DG: Pensando na sua trajetória na Visa, quais aprendizados sobre gestão de pessoas e cultura você acredita que serão ainda mais valorizados no futuro das carreiras corporativas?
PHR: Tem uma fala do Peter Drucker que acreditamos muito aqui na Visa que fala que a cultura devora a estratégia no café da manhã. Você pode ter a melhor estratégia do mundo desenhada com apresentações incríveis, mas, se não trabalhar a cultura com os funcionários, essa estratégia não vai para frente.
Esse é um desafio gigantesco nas empresas e é importante lembrar que, enquanto inovação cresce exponencialmente hoje em dia, a cultura é linear. Isso significa que o trabalho de cultura precisa ser constante e mutante e, mesmo assim, não vai chegar perto do dinamismo e da velocidade da transformação tecnológica.
Acredito que a capacidade de liderar com empatia, fomentar um ambiente colaborativo, inclusivo e incentivar a inovação serão habilidades altamente valorizadas. Além disso, a transparência e a comunicação aberta serão fundamentais para construir confiança e engajamento entre os funcionários.
DG: O que você diria para o Paulo Henrique de 20 anos atrás se o encontrasse hoje?
PHR: Eu cresci em um ambiente onde para crescer na vida e se realizar profissionalmente, você só teria duas ou três opções de carreira. Apostar numa profissão como Comunicação ou Jornalismo era uma sentença de fracasso futuro. E isso sempre me deixou com muito medo.
Eu o tranquilizaria sobre acreditar mais em seu potencial e encontrar seu espaço na profissão que realmente fazia sentido para ele.
Eu diria para o Paulo Henrique de 20 anos atrás confiar em sua intuição e ser resiliente. As mudanças e desafios são inevitáveis, mas cada experiência traz aprendizados valiosos e o encorajaria a focar no desenvolvimento contínuo, a ser curioso e a abraçar a inovação.