Guilherme Carvalho [OLX] – Como a OLX vê o mercado imobiliário e de e-commerce no Brasil?

12
Views

Na edição deste mês tive a honra de entrevistar o CFO do Grupo OLX Guilherme Carvalho para nos contar sua visão do mercado brasileiro tanto no ramo imobiliário quanto do e-commerce no Brasil. Assim como nos conta como foi morar na Europa e retornar ao Brasil como um executivo C-Level.

Guilherme Carvalho (foto: acervo pessoal)

Guilherme é original de Curitiba. Formado em Administração de empresas pela UFPR e em Direito pela PUCPR, com MBA no INSEAD, França. Atuou em consultoria e auditoria na PwC (onde fomos colegas) e em private equity na Prosus. Entre 2013 e 2023 residiu no exterior, principalmente na Holanda, e em 2023 assumiu a posição de CFO da OLX Brasil.

Diego Godoy: Guilherme, muito obrigado por falar com nossos mais de 44 mil assinantes! Como você acha que a pandemia afetou o mercado imobiliário brasileiro, especialmente com a galera adotando o home office? Quais mudanças você acredita que vieram pra ficar?

Guilherme Carvalho: O período da pandemia foi de incertezas em todos os segmentos, e no imobiliário não foi diferente. No entanto, a redução da taxa de juros, que atingiu o menor patamar histórico, aliada à mudança no comportamento do consumidor, que ressignificou a relação com o lar, impulsionou a demanda. Houve uma grande procura por imóveis mais amplos, com espaço para escritório; espaços abertos, como varandas e quintais; além de localização em regiões mais próximas à natureza, o que também intensificou o interesse pela segunda moradia.

A pesquisa “Tendências de Moradia” realizada pelo nosso time de inteligência imobiliária, o DataZAP, em 2021, mostrou que, entre os compradores de imóveis, se destacava a busca por opções com maior área útil (82%), com varanda (76%), com mais cômodos (73%), com quintal (69%). Também chamou a atenção a procura por locais distante do trabalho, com percentual de 25% acima do padrão.

Esses dados do estudo deste ano já são bem diferentes, o que mostra o impacto do retorno gradual aos escritórios, ainda que em regime híbrido. Se em 2023, 52% dos compradores já haviam sinalizado o retorno ao presencial, em 2024, esse percentual subiu para 69%.

DG: O que a OLX tem notado de diferente no jeito que as pessoas procuram imóveis? Tá rolando um aumento na busca por casas em lugares mais afastados por causa do trabalho remoto?

GC: Essa busca por regiões mais afastadas dos grandes centros aconteceu durante a pandemia, mas vimos uma reversão dessa tendência com o retorno aos escritórios. A pesquisa  “Tendências de Moradia” deste ano apontou que somente 12% dos respondentes trabalham 100% na modalidade de home office. Por outro lado, vemos novas tendências surgindo, como o maior interesse por novas facilidades dentro dos empreendimentos.

Nossos estudos apontam crescimento de interesse por imóveis com itens não convencionais como mini mercado, espaço para armazenamento, organização e coleta de encomendas e espaço pet, que só ficam atrás de churrasqueira quando se fala no mercado de compra. Isso reforça a dinâmica do setor, que está sempre inovando para atender novas demandas dos consumidores.

DG: Quais são as principais tendências que você enxerga pro mercado imobiliário nos próximos anos, considerando o pós-pandemia e a possível continuação do home office?

GC: O mercado primário é quem dita o tom das tendências e olhando para ele, destacaria os empreendimentos com fachada ativa, que é uso do térreo do edifício com lojas de comércio ou serviço, e empreendimentos com apartamentos de diferentes tamanhos e configurações, o que atrai pessoas com configurações familiares diversas e conjuntos comerciais integrados.

A valorização da arquitetura assinada e uma maior preocupação com empreendimentos que integram espaços urbanos e privados, ajudando a tornar a cidade mais amigável, também são tendências fortes.

DG: Você fez a transição da Europa pro Brasil na sua carreira. Quais foram os maiores desafios nessa mudança e como essa experiência internacional influenciou sua visão sobre o mercado daqui?

GC: São várias diferenças muito marcantes entre a minha atuação na Europa e no Brasil.

Atuando em funções financeiras, não poderia deixar de mencionar a questão macroeconômica. A taxa de juros elevada e a inflação insistente no Brasil tornam a operação de uma grande empresa como a nossa mais desafiadora, ao mesmo tempo que a entrada de uma grande parcela da população na economia de consumo deixa o mercado brasileiro um pouco mais dinâmico.

Do ponto de vista do ambiente de trabalho, temos uma força de trabalho bastante qualificada no Brasil, principalmente nas áreas de tecnologia – não sinto que estamos atrás em qualidade, mas com certeza temos que crescer a massa de profissionais qualificados.

A minha experiência internacional com certeza me ajuda na interlocução com nossos acionistas e parceiros no exterior já que temos complexidades e peculiaridades únicas do Brasil!

DG: Pensando nos próximos 5 a 10 anos, como você vê o futuro de plataformas de e-commerce como a OLX no Brasil?

GC: Falando especificamente da OLX, como o maior marketplace de classificados de produtos usados, autos e imóveis do Brasil, trabalhamos continuamente para agregar ainda mais valor aos nossos usuários, então continuaremos inovando e criando soluções que respondam às suas necessidades, baseados em tecnologia. São inúmeras tendências que afetam o e-commerce e as plataformas online. Algumas relevantes que posso citar:

1. O e-commerce no Brasil ainda representa menos de 10% do total de vendas do varejo. Nos EUA, a marca de 15% já foi ultrapassada, e na Ásia 20%. Vamos continuar progredindo aqui.

2. O social-commerce ou live-commerce, que é a integração da experiência das redes sociais na jornada de consumo vai expandir muito a medida que cada vez mais a população brasileira está conectada às redes.

3. Entrega ultra rápida: os consumidores estão dispostos a pagar um pouco mais pela conveniência da entrega ultra rápida e muitas startups estão investindo em acelerar a cadeia logística de entregas. Veja que nem citei AI (inteligência artificial) aqui, enfim, as inovações não param.

DG: Como a OLX planeja inovar e se adaptar às mudanças rápidas da tecnologia e às expectativas dos consumidores na próxima década?

Em primeiro lugar temos que ter uma atenção rigorosa às necessidades dos nossos clientes e parceiro – lá fora isso é conhecido como ‘customer centricity’. O usuário está no centro de todas as grandes decisões que tomamos na companhia e atender as suas demandas é nosso principal objetivo.

Segundo, adaptação às novas tecnologias é um processo de investimento de longo prazo, não acontece por acaso e raramente é do dia pra noite. Hoje, no Grupo OLX, já temos inúmeros cases de aplicação de AI em todas as nossas grandes áreas, seja no produto final usado pelos nossos clientes ou em funções de back office. Isso é fruto de investimentos que começaram anos atrás.

Por fim, contamos com acionistas que operam negócios como os nossos em outras partes do mundo, e as trocas de experiências e tecnologias são constantes, o que nos permite atender as necessidades do público consumidor brasileiro nos beneficiando do que há de mais moderno em termos de tecnologia na nossa indústria.