Frequentemente somos abordados na MUUDA para atender empresas do varejo e o problema central é sempre o mesmo: dificuldade em contratar, gerir, treinar e reter pessoas.
Em 2023 a media de rotatividade de pessoas (o “turnover”) no Brasil estava entre 5% e 10%, porém no varejo esse número chegou a 36% segundo estudo divulgado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
Para falar de um case diferente dessa media no segmento do varejo eu convidei a Carol Buddemeyer para contar sobre o que fazem dentro de casa (literalmente, aproveitando o nome da marca) para terem uma presença de mercado tão marcante e com índices de RH invejáveis.
Carol Buddemeyer (foto: acervo pessoal)
Caroline Buddemeyer, é diretora administrativa e de operações da Casa Almeida, braço de varejo do grupo Buddemeyer S.A. Formada em Publicidade e Propaganda, e Administração de Empresas, com pós-graduação em Ciências do Consumo, Carol tem se destacado por sua visão estratégica e liderança transformadora. Ela implementou mudanças significativas na mentalidade da equipe, estabeleceu o recrutamento interno como uma ferramenta essencial para contratações, e instaurou a Universidade Corporativa, promovendo o desenvolvimento contínuo dos colaboradores. Com sua gestão e junto a outras áreas do varejo e da indústria, fizeram a Casa Almeida sair de 7 para 17 unidades, com mais duas previstas para abertura no último trimestre. Caroline é uma defensora da gestão humanizada e participativa, e em seu tempo livre, adora fazer trilhas, explorar a natureza, arte e viajar para conhecer novas culturas.
Diego Godoy: Carol, muito obrigado por topar falar conosco! Carol, como você enxerga o papel do desenvolvimento de pessoas dentro da sua empresa e quais são as principais iniciativas que vocês implementaram para promover o crescimento profissional dos seus colaboradores?
Carol Buddemeyer: Eu que agradeço, Diego!
Desenvolvimento de Pessoas é para mim uma das partes mais importantes. Desenvolver pessoas é aumentar repertório, trazer criatividade, questionamentos e troca de ideias, melhorar a capacidade de análise, resolução de problemas, uma grande chance de desenvolver novos e melhores projetos… isso sem falar nas soft skills, onde você tem melhoras consideráveis em inteligência emocional, relacionamento interpessoal, trabalho em equipe, e por aí vai.
Temos alguns processos. Já na integração do novo colaborador, começa o treinamento da parte teórica, e depois vem a parte prática.
Temos hoje 3 lojas que consideramos “Lojas Escola”, onde esses novos colaboradores irão se desenvolver durante um tempo, até estarem aptos a ir para sua loja final. Para esta parte temos um material personalizado de vendas da Casa Almeida, desenvolvido exclusivamente para nós.
Na abertura de novas lojas, com uma equipe inteira nova, temos nossas Regionais e gerentes volantes, que fazem o treinamento antes da abertura, e acompanham durante um tempo pós abertura esses colaboradores.
Temos também a Universidade Corporativa, onde os temas abordados são tanto para o desenvolvimento profissional, quanto pessoal. A universidade começou em março de 2022, hoje temos aproximadamente 300 inscritos, e 31 cursos disponíveis.
Para todo gestor de loja que entra para o time, temos um treinamento de liderança, voltado para melhorar o posicionamento, e trazer ferramentas que ajudem nas dinâmicas de vendas e administrativas com os liderados.
A cada coleção nova também reunimos o time todo de varejo para conhecerem não só o produto, mas receberem todo o treinamento sobre cada item.
DG: Quais tipos de treinamentos têm se mostrado mais eficazes na sua empresa para capacitar os funcionários e garantir que eles estejam preparados para enfrentar os desafios do mercado de varejo têxtil?
CB: No nosso segmento, especificamente na parte do varejo, os treinamentos mais eficazes ainda são os presenciais, “mão na massa” mesmo. Conhecer o mix de produtos da loja, o repertório dos desenvolvimentos dos produtos, e principalmente, aprender a escutar ativamente para entender a necessidade do cliente. Mas também temos o treinamento na fábrica para gerentes, gerentes volantes e Regionais, que depois dividem esse conhecimento com suas equipes. Essa parte é mais técnica, desde a nossa história, até a construção dos tecidos, técnicas de produção, passando por toda parte de tinturaria, costura, acabamento e logística.
É de extrema importância que o varejo conheça por inteiro o processo fabril, pois isso facilita as dinâmicas do dia a dia, e dá mais segurança para toda equipe, pois aumenta o repertório do time de vendas com o consumidor final.
A universidade corporativa vem se mostrando com grande potencial.
Loja Casa Almeida no bairro dos Jardins em SP (foto: site da empresa)
DG: Quais são as principais vantagens que você vê em promover o recrutamento interno em vez de buscar talentos externamente, e como isso impacta a cultura e a produtividade da sua empresa?
CB: Sou grande fã de Recrutamento interno. À medida que qualquer negócio cresce e passa a ter mais vagas, é muito bom poder ver gente “de dentro” crescendo e tendo novas oportunidades. Isso inclusive aumenta a moral das equipes o que tem um impacto positivo. Essa pessoa já tem a cultura da empresa, conhecimento de grande parte dos processos e necessidades, já conhece o time e a dinâmica do negócio. Além disso “uma vaga vira duas”, pois você acaba abrindo mais uma vaga, que também pode ser interna, ou para o mercado.
DG: Como vocês identificam os talentos dentro da empresa que têm potencial para crescer e assumir posições de liderança, e quais estratégias são usadas para desenvolver essas habilidades e prepará-los para novos desafios?
CB: Através de acompanhamento de desempenho (performance), comportamento, trabalho em equipe e da observação e vivência no cotidiano dos superiores. A partir daí, quando surgem os nomes, fazemos uma avaliação comportamental, e criamos um PDI (Plano de Desenvolvimento Individual). A partir daí são as mesmas avaliações que as anteriores, mas no novo cargo, com feedback dos novos gestores e ajuste de objetivos e plano de desenvolvimento.
DG: Se você pudesse dar uma dica para alguém que passa pelos mesmos desafios que você na gestão de pessoas numa empresa de varejo, o que diria?
Gerir pessoas, seja no varejo, ou em qualquer outro segmento, será sempre desafiador, mas ao mesmo tempo, recompensador. Acredito muito na tríade escuta ativa, clareza nos objetivos e alinhamento de expectativas.
Carol Buddemeyer
Dedique tempo a estar e conhecer melhor seu público interno. Dedique tempo a estar nas lojas, vivendo e aprendendo sobre a rotina, processos e desafios do salão de vendas. Dedique tempo e saiba como funcionam os processos de retaguarda, para além de aprender, ser um melhor interlocutor e agregar aos dois lados. Dedique tempo a buscar sempre novas tecnologias, soluções, ferramentas, que otimizem as atividades diárias e melhorem a produtividade de todos, isso valoriza o tempo, e o trabalho de cada um. E por fim, dedique tempo para se conectar com essas pessoas, seja através de participação em grupos de WhatsApp, treinamentos presenciais, encontros regulares, presença em loja.
Somos seres sociais, e apesar da tecnologia ajudar em muitos aspectos com essa “proximidade mesmo longe”, ela ainda não substitui as trocas que ocorrem pessoalmente, olho no olho. Ainda bem.
Tenho certeza que essa edição com a Carol ensinou tanto a você como me ensinou como um segmento estigmatizado como “difícil” na gestão de pessoas pode ser um exemplo para outros setores com uma gestão de pessoas feita de forma empática e criteriosa. Até a próxima edição!